28 de dezembro de 2011

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Começou a frase com três pontos finais. Começou pelo fim, ou o fim começou pelo começo? O ponto final me dá angústia, acabou, as reticências triplicam a angústia desse ser, ponto final.

Porque começar uma frase assim? …Não sei. O ponto final deve ser usado no fim, o fim que nunca deve chegar, mas chega, logo chega, para todos. O vazio que sobra depois do ponto final, na verdade não é nenhum, depois dele minha mente voa, e cria palavras, frases, imagens, Ah ponto final, porque dar um fim a todo começo? Vá embora ponto final, só volte para acabar com aquilo que for ruim. Não acabe mais o que começa em mim, que não tenha fim.

23:15

BeijosdaAna.


Rebeca, ou não.

Me chamo Rebeca, ou talvez Renata, mas pode me chamar de Rebeca que eu prefiro. Esses 90 e tantos anos me fizeram esquecer algumas coisas, inclusive meu nome, talvez ele não seja nenhum dos dois! Mas eu sempre gostei de Rebeca, talvez seja esse mesmo, ou não.

Sinto falta de algumas coisas, como andar, eu não uso cadeira de rodas, graças a Deus, mas não posso andar tanto porque dói. Sinto falta de comer melão, tenho medo de que minha dentadura se solte. Mas o que mais sinto falta é dele, é, meu marido. Morreu com 87 anos, ou talvez 84 não me lembro, me casei com 19 anos, isso me lembro, e desde então nunca nos deixamos, mas ele teve que ir, não o culpo estava ruim de mais pra ele aqui, e está começando a ficar pra mim.

Sinto falta de ler também, já não enxergo, só com os óculos, um pouco, mas me cansa. As vezes me pego pensando o porque da vida, nascer, crescer, casar, ter filhos, fazer muitas coisas, mas no fim todos chegamos no mesmo lugar: em baixo da terra. E que lugar ruim deve ser! Vou sentir falta de ver o azul do céu de baixo, mas talvez eu veja de cima.

Esperem! Tem alguém me chamando na porta, demoro uns dez minutos, ou talvez dois, pra chegar lá. É o meu marido, sim, é ele. Mas como? Ele me chama, está tão apagado! Ou talvez tenha luz de mais em volta dele. Vou até ele, ele beija a parte de cima de minha mão, não tem ninguém na rua mas ouço vozes. Ele me puxa para uma dança, mas agora eu consigo dançar, na verdade flutuo. Olho pra baixo e vejo meu corpo caído, vejam o sorriso! Tão grande, lindo. E subo com ele para o céu de um azul incrível, entro nele. Então, morri.

23:14

BeijosdaAna.



Sinta o jardim.

Tenho um jardim, um jardim de flores amarelas. No meu jardim o vento sopra no fim da tarde, levando consigo os cabelos ruivos do sol que passeiam pelo meu jardim de flores amarelas.

Às vezes, quando chove, o meu jardim se alegra, ouço as risadas de crianças das flores amarelas, mesmo das flores velhinhas, ainda riem como crianças. Depois da chuva elas se secam, e tem fome.

Quase sempre borboletas e beija-flores aparecem no meu jardim, voando por lá, e como gostam das minhas flores amarelas! Tão únicas… Minhas. Mas eu as divido com eles, e ás vezes com algum passante que me pede alguma, eles as amam, mas não dou qualquer flor a eles, ás vezes alguma flor quer conhecer o mundo fora do jardim, conhecer outros ventos, certa flor queria conhecer o mar, então pergunto qual quer sair, ás vezes são muitas, outras nenhuma, e vão com os passantes do meu jardim. Ambos felizes.

Todo dia alguma flor cai, morre. Tão injusto! Deixa todos verem sua beleza, seu perfume amarelo, e então morre. Mas sei que volta, ás vezes em forma de flor, ás vezes em forma de borboleta, ou então em forma de vento que leva os cabelos ruivos do sol no fim da tarde. Ah, flores.

E quando chegar a minha vez de cair, quero que passantes e o vento cuidem do meu jardim, quero que cuidem de mim, que voltarei em forma de flor amarela no meu jardim, ser uma flor, minha flor de mim.

23:11

BeijosdaAna.

Quer dizer, foi embora para sempre, sem volta. Mas acho que agora já devo saber o suficiente sobre perdas para perceber que nunca deixamos de sentir a falta das pessoas… apenas aprendemos a conviver com o enorme buraco deixado pela ausência daqueles que perdemos.

Trecho de Lua Azul, série Os Imortais, de Alyson Noël, página 20.

23:08

BeijosdaAna.

Talvez tu sejas óleo, e não se misturas a mim, que sou água. Talvez tu sejas carne, e eu seja unha. Talvez.


23:07

BeijosdaAna.

Busco pedaços de mim em tudo que vejo, mas acho que não há pedaços de mim aqui, talvez poque eu não me encaixe, talvez porque eu sou diferente de todos daqui. Não há pedaços de mim em parte alguma...

Oh! Vejam só! O vento passou por mim levando mais uma parte, sabe-se pra onde, nunca saberei onde encontrá-la, talvez não aqui, pois aqui não há partes de mim…

23:06

BeijosdaAna.

Havia chegado do trabalho, estava sozinha em casa, de novo. Mas não tinha como não estar sozinha, já que morava assim. A casa estava limpa. Luce procurava o que fazer, podia ler algum livro, mas já tinha lido todos os que tinha algumas vezes, e saber o fim da história acaba com a graça. Podia ouvir música, mas já tinha ouvido as mesmas músicas o dia todo, então o som que lhe fazia bem ia lhe fazer mal agora. Então Luce resolveu sair, sozinha, sem ter para onde ir.

Andou bastante até chegar ao parque, não, não um parque de diversões, um parque mais parecido com um bosque. Ela estava na calçada do lado de fora, o que a separava do parque/bosque era uma mureta que acabava na sua cintura e uma grade que começava onde a mureta acabava, mas subia duas vezes a sua altura, isso porque o parque/bosque não abria a noite, e a grade servia para as pessoas más não entrarem ali. Se arrepiou. Não queria pensar nelas agora.

Procurou o portão e entrou, ficou parada na entrada pensando para onde iria. Podia ir até o lago, mas havia pessoas ali. Podia comprar uma pipoca, mas havia crianças de mais ali. Ficou olhando para achar um lugar sem ninguém, então viu uma árvore, igual as outras com dois bancos, um de cada lado, mas não havia ninguém neles. Aliás eles pareciam bem mais novos que os outros. Resolveu se sentar ali. A árvore era um pouco mais alta que as outras, e uma brisa bagunçava seus cabelos, ela estava bem, sozinha, na árvore que parecia ser sozinha.

-Ei!

Ela abriu os olhos e viu um senhor a olhando com cara de espanto.

-Sim? – Respondeu.

-Porque está nessa árvore?

-Qual o problema?

O senhor franziu a testa e saiu pensativo. Louco, Luce pensou. Então voltou a fechar os olhos. E ouviu um burburinho, quando abriu os olhos viu que haviam algumas pessoas em volta olhando para ela e cochichando. Ela os encarou. Até que uma senhora disse:

-Não tem medo de ficar aí?

-Porque teria? – Luce estava confusa.

-Não sabe da história?

-Não.

-Resumindo: Houve um assassinato aí há alguns meses.

-Não sabia. Mas qual é o problema?

Todos franziram a testa e pouco a pouco foram saindo pensativos. Loucos, Luce pensou. Tornou a fechar os olhos. E assim ficou o resto da tarde, ás vezes sentia que alguém parava ali, mas ao abrir seus olhos, as pessoas faziam menção de dizer algo, mas então fechavam a boca e saiam com a testa franzida, pensativos. Qual era o problema deles? Só porque alguém foi morto naquele lugar, ele não devia ser abandonado. Era lindo. Seria o lugar de Luce agora. Sozinha com a árvore sozinha. Luce queria um cigarro, mas havia deixado o maço em casa, e estava sem um tostão no bolso, mas não queria ir embora ainda, então suportou a vontade. Passou a tarde toda ali, e quando estava escurecendo e seus membros estavam ficando dormentes, foi para casa.

Quando se levantou todos a encararam. A menina louca, diziam. Loucos eram eles, e Luce sabia. Chegou em casa, sozinha. Acendeu um cigarro e tomou um café preto, forte. Tomou um banho longo e quente. Se deitou e dormiu, sozinha. Gostava de estar sozinha, já que para ela todos eram loucos, e para todos ela era louca.

Boa noite Luce.


23:02

BeijosdaAna.

Olá seguidores (e não-seguidores), tinha parado de postar aqui e acho que não fez falta... Mas mesmo assim, se alguém gostar daqui, gostaria de dizer que vou voltar. Eu criei um tumblr e estava só lá... mas vou voltar! Se alguém quiser ver meu tumblr, é esse aqui: www.necessidadesadolescentes.tumblr.com


Obrigada.

22:59
BeijosdaAna
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