21 de maio de 2013

Quases


 O silêncio quase absoluto que meus olhos veem é interminável. As pontas seus dedos tocavam levemente a minha pele e o quase frio arrepio era inevitável. Eu puxava um dos cachos do quase emaranhado do seus cabelos e ele se enrolava rebelde, irredutível, como você, de volta o seu lugar; fechado nele mesmo.
 Sua quase doce boca se juntava com a minha quase amarga e o quase flutuar do chão acontecia. O coração quase tinha asas. Seu quase salgado suor grudava nossos corpos em quase êxtase. Quase perto, quase longe.
 Agora o silêncio quase absoluto invade meus olhos e já quase não tenho, de repente não tenho. Uma vida quase inteira, quase de verdade, feita de metades. Então só me resta essa insuportável quase ausência de som. Quase escuto sua voz.

27 de março de 2013

Corpo sem alma, casca vazia


Busco a cura para minha alma. Um buraco vazio, cheio de você. Procuro a cura no muro, na guerra, no céu. Minha cura… O que será a cura para mim? A cura para tudo que você me causou. Felicidade que acabou assim: em um piscar de olhos.
 Busco a cura no rock e, admito, me acalma. Até tocar aquele rock dos bons que você me mostrou. Busco a cura na bebida até lembrar que você beberia todas comigo e me faria rir, rir até perder todo o ar. Ar que você ficaria completamente feliz em repor com sua boca na minha. Você me tira o ar.
 Sentir os pés saírem do chão. A última vez que tive esse prazer foi quando minha alma saiu de mim, a última vez em que te disse tchau. O corpo todo vibrou, os olhos nada viam, pois tanta água embaça a visão, senti minha alma se soltar dos meus pés e fugir como um foguete foge para a lua. Corpo sem alma, casca vazia.
 Perder a alma, coisa que achava impossível. Parece que o impossível não existe. Corpo sem alma, casca vazia a vagar pelo mundo. Casca vazia que já esteve preenchida e, hoje, não acredita que um dia se completará novamente. Alma antes azul, ora vibrante, agora inexistente.
 Talvez não exista cura para alma que some, ou, talvez, só exista uma cura. Cura inatingível para mim, cura essa que já tive sem saber que era cura, e, só agora que me faz falta percebo: Você é a cura da minha alma.

16 de novembro de 2012

(Sem título)


 Tinha os olhos mais bonitos que já vi, pretos e profundos como um buraco negro que puxa tudo para si, claro que, assim como os buracos negros, nada passava por eles. Não sabia dizer quando estava feliz, sabe, feliz de verdade e não apenas com os lábios. Nem triste, nem com raiva, simplesmente escondia emoções tão bem quanto eu nunca poderia fazer, e isso só me fascinava ainda mais. Os buracos negros em suas órbitas não deixavam passar emoção.
 Dizia que me amava, eu não sabia se acreditava, mas me arriscava, seus olhos me puxavam para si do mesmo modo que eu desejava que suas mãos me puxassem para si, mas nunca fazia. Dizia que eu merecia muito mais, e não entendia que não havia nada de melhor no mundo para mim do que aquelas pupilas supermassivas.
 Tinha o melhor cheiro do mundo pra mim: canela, o que combinava perfeitamente com sua cor, cor de canela. Seus cabelos eram negros, não tanto quanto seus olhos, eram lisos e eu tinha vontade de acariciá-los a todo tempo.
 Tinha medo de me fazer sofrer, não sabia que o que me fazia sofrer era não poder estar junto, quase nunca estávamos e brigávamos sempre que estávamos. O motivo era meu vício em bebidas, queria que eu parasse mas eu não podia parar, beber me fazia bem, beber substituía sua falta. Mas ele não entendia, claro que não.
 Sinto falta de suas pupilas-buracos-negros-supermassivos.

26 de março de 2012

Por onde anda você?

Por onde anda você, que não te vejo mais? Por onde anda você que não me procura mais? Por onde anda você com suas manias loucas para me animar, tirar o vazio de mim? Por onde anda você com seu álcool? Por onde anda você com a minha alegria? Com a minha paz? Com o meu amor? Com os meus sorrisos? Com as minhas lágrimas que guardou para si quando elas já não cabiam em mim?

Por onde anda você com suas mensagens que me faziam rir? Por onde anda seu rock n’ roll? Por onde anda você que levou meus gritos? Minha dor? Minha escuridão? Por onde anda você? Sei que me fará sorrir quando voltar, mas, por onde anda você?

22:07

BeijosdaAna.


28 de dezembro de 2011

...

Começou a frase com três pontos finais. Começou pelo fim, ou o fim começou pelo começo? O ponto final me dá angústia, acabou, as reticências triplicam a angústia desse ser, ponto final.

Porque começar uma frase assim? …Não sei. O ponto final deve ser usado no fim, o fim que nunca deve chegar, mas chega, logo chega, para todos. O vazio que sobra depois do ponto final, na verdade não é nenhum, depois dele minha mente voa, e cria palavras, frases, imagens, Ah ponto final, porque dar um fim a todo começo? Vá embora ponto final, só volte para acabar com aquilo que for ruim. Não acabe mais o que começa em mim, que não tenha fim.

23:15

BeijosdaAna.


Rebeca, ou não.

Me chamo Rebeca, ou talvez Renata, mas pode me chamar de Rebeca que eu prefiro. Esses 90 e tantos anos me fizeram esquecer algumas coisas, inclusive meu nome, talvez ele não seja nenhum dos dois! Mas eu sempre gostei de Rebeca, talvez seja esse mesmo, ou não.

Sinto falta de algumas coisas, como andar, eu não uso cadeira de rodas, graças a Deus, mas não posso andar tanto porque dói. Sinto falta de comer melão, tenho medo de que minha dentadura se solte. Mas o que mais sinto falta é dele, é, meu marido. Morreu com 87 anos, ou talvez 84 não me lembro, me casei com 19 anos, isso me lembro, e desde então nunca nos deixamos, mas ele teve que ir, não o culpo estava ruim de mais pra ele aqui, e está começando a ficar pra mim.

Sinto falta de ler também, já não enxergo, só com os óculos, um pouco, mas me cansa. As vezes me pego pensando o porque da vida, nascer, crescer, casar, ter filhos, fazer muitas coisas, mas no fim todos chegamos no mesmo lugar: em baixo da terra. E que lugar ruim deve ser! Vou sentir falta de ver o azul do céu de baixo, mas talvez eu veja de cima.

Esperem! Tem alguém me chamando na porta, demoro uns dez minutos, ou talvez dois, pra chegar lá. É o meu marido, sim, é ele. Mas como? Ele me chama, está tão apagado! Ou talvez tenha luz de mais em volta dele. Vou até ele, ele beija a parte de cima de minha mão, não tem ninguém na rua mas ouço vozes. Ele me puxa para uma dança, mas agora eu consigo dançar, na verdade flutuo. Olho pra baixo e vejo meu corpo caído, vejam o sorriso! Tão grande, lindo. E subo com ele para o céu de um azul incrível, entro nele. Então, morri.

23:14

BeijosdaAna.



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